Publicado em Conjuntura

Pobreza cai ao menor nível desde 1987

 FOLHA DE SÃO PAULO – 19.09.2007

Em 2006, índice da população considerada pobre recua a 26,9%, ante 30,5% no ano anterior; economista credita resultado ao mínimo

Total de indigentes também cai, de 6,8% da população em 2005 para 5,7% em 2006; pobreza se concentra mais em áreas metropolitanas

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Em 2006, a pobreza atingia 26,9% da população brasileira. É o mais baixo índice desde 1987, quando estudos nesse sentido começaram a ser feitos pela economista Sonia Rocha, do Iets (Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade), com base em informações da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) do IBGE e obtido pela Folha.
Em 2005, a proporção de pobres ficou em 30,5%. Em 1995, a pobreza chegava a 33,2%, no primeiro ano completo do Real. No período, o número de pobres caiu significativamente, graças à estabilidade.
Em números absolutos, houve queda de 10,6% no contingente de pobres no país -de 54,884 milhões de pessoas em 2005 para 49,043 milhões em 2006. Ou seja, em um ano, 5,841 milhões de brasileiros se afastaram da linha da pobreza.
Para determinar o número de pobres, a economista traçou linhas regionais de pobreza, com valores diferenciados em razão de o custo de vida ser distinto entre as localidades.
Na região metropolitana de São Paulo, por exemplo, são classificados como pobres os que viviam em 2006 em domicílios com renda per capita inferior a R$ 266,15.
Segundo o estudo, o total de indigentes que vivem no país também baixou -de 6,8% da população em 2005 para 5,7% em 2006. Em todo o Brasil, o número de miseráveis caiu de 12,218 milhões para 10,363 milhões. Trata-se de redução, em termos absolutos, de 15,2%. Estavam na indigência, em São Paulo, os domicílios com renda per capita inferior a R$ 66,65.
Por trás da queda da pobreza, está o reajuste real de 13,3% do salário mínimo em 2006, que elevou a renda das famílias mais pobres.
“Os resultados refletem melhorias no mercado de trabalho. Embora a expansão da ocupação em 2006 tenha perdido fôlego ante a observada em 2004 e 2005, os ganhos no rendimento do trabalho se acentuaram, o que resultou em forte aumento da massa salarial, de 9,8%”, diz Sonia Rocha.
Segundo ela, “forte reajuste real do mínimo e a expansão das transferências assistenciais [entre elas, o Bolsa Família], que atingem R$ 20 bilhões em 2006, contribuem para o aumento da renda das famílias na base da distribuição e a redução da incidência de pobreza”.
O aumento dos preços dos alimentos abaixo da inflação média de 2006 também contribuiu para diminuir a pobreza no país. É que as despesas com alimentação pesam mais no bolso dos mais pobres.
Divulgados na semana passada, os dados básicos da Pnad já apontavam tal tendência. É que a renda do trabalho dos 50% mais pobres cresceu mais (8,5%) que a dos mais ricos (6,9%). Na média, a renda subiu 7,2% -maior alta desde 95.
Pela Pnad, a desigualdade cedeu. O índice de Gini do rendimento do trabalho caiu de 0,544 para 0,541 -quanto mais próximo de 1, mais concentrada é a distribuição.
Se, como um todo, a pobreza cedeu no país, houve concentração nas áreas urbanas, em especial nas grandes metrópoles. Do total de pobres que viviam no país, 36,3% estavam nas dez principais regiões metropolitanas. Esse percentual era menor em 1995: 28,8%. Em 2005, havia sido de 35,5%.

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