No artigo abaixo, José Paulo Kupfer faz uma interessante observação: qualquer problema na economia só há um culpado, quem será? Quem mais poderia ser?! O gasto público, ora!
José Kupfer afirma que deveria haver uma abordagem honesta do problema dos gastos públicos, que, diga-se logo, não pode ser desprezado e deve ser atacado, deveria começar pela separação de alhos e bugalhos. O honesto seria detalhar o que é o que no conjunto dos gastos públicos. Mas quem, entre os economistas-financistas, se preocupa com isso?
*Por Katia Alves
Publicado originalmente no Blog do José Paulo Kupfer
Por José Paulo Kupfer
O gasto público – melhor dizendo, a “gastança” pública -, assim, tomado na sua expressão mais genérica, é o suspeito de sempre, na visão dos economistas-financistas. Qualquer problema e… pimba, fogo no gasto público. A economia vai mais ou menos? Iria melhor se o governo controlasse os gastos públicos. A economia vai bem? Já pensou que espetáculo, se não fossem os gastos públicos. A economia vai mal? Claro, o governo não controla os gastos públicos…
Agora mesmo, para um certo tipo de economistas de manual, com a escalada do déficit em contas-correntes, a questão não tem a ver com a valorização do real, mas com… o gasto público. Podem anotar: quanto mais o déficit externo abrir, mais a historieta dos déficits gêmeos – fiscal e externo – vai merecer “análises” eruditas e geniais. Com a ajuda conhecida nos chamados meios de divulgação, vão transformar uma mera identidade aritmética, verificável apenas “ex-post”, no supra-sumo da teoria econômica. Confiram.
São muitos os problemas dessa visão distorcida, mas dominante. Começa que é intelectualmente preguiçosa, para não dizer mal intencionada. De que gasto público estão falando? A gente imagina que estão falando dos gastos com os marajás do serviço público ou dos apadrinhados dos poderosos do turno. Mas, como isso não é nunca bem detalhado, vai tudo no balaio de gatos.
Programas sociais, transferências de renda, Previdência, são gastos públicos. Mas quando enfiados, sem mais nem menos, no mesmo saco do custeio da máquina pública, dá para desconfiar. Sem falar que, no saco genérico, também vão embrulhados os desvios de recursos – que existem e com os quais não podemos nos conformar. Só não entram na conta da “gastança” as despesas com juros da dívida pública – de longe o item individual mais pesado dos gastos públicos – e os custos fiscais com a acumulação de reservas cambiais. Por que será? Continuar lendo “De que gasto público vivem falando?”